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Violência interrompe celebração junina e reacende debate sobre o direito à vida nas favelas cariocas

Na madrugada deste sábado (7), o Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, foi palco de mais uma tragédia envolvendo a força do Estado. Uma operação do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) interrompeu uma festa junina comunitária e deixou um saldo doloroso: Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, foi atingido por um tiro no abdômen e morreu horas depois no hospital. Outros cinco moradores ficaram feridos.

Herus era trabalhador, atuava como office boy e era pai de um menino de apenas dois anos. Naquela noite, ele só queria aproveitar a festa organizada pelos próprios moradores da favela. O que era para ser uma celebração de cultura e pertencimento, terminou com correria, tiros e gritos de desespero.

Relatos apontam que a polícia entrou na comunidade atirando, sem aviso. Vídeos nas redes mostram cenas de pânico: crianças chorando, famílias se jogando no chão, jovens sendo pisoteados na fuga. Um deles foi Emanuel da Silva Félix, de 15 anos, que permanece internado após ser baleado.

A festa tinha sido organizada de forma pacífica e, segundo moradores, contava com autorização prévia. Apesar disso, o Bope invadiu o território em plena madrugada, durante um evento lotado, sem divulgar até agora o motivo da operação ou se havia alguma ameaça real no local.

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e a Comissão de Direitos Humanos da Alerj já acompanham o caso e cobram respostas das autoridades. O que se vê, mais uma vez, é uma atuação que desrespeita protocolos de segurança, ignora a presença de civis e banaliza a vida de quem mora nas favelas.

Hoje, o Morro Santo Amaro amanheceu em silêncio. A música calou, os fogos da quadrilha não explodiram no céu. Em seu lugar, ficou a dor da perda de mais uma vida, jovem, trabalhadora. Interrompida pela violência de um Estado que deveria proteger, não matar.

Moradores agora se mobilizam por justiça. Herus não era criminoso. Era pai, filho, vizinho, amigo. E sua vida importa.